POR QUE MISSÕES?
Mt. 28.16-20
“Missões” será a palavra mais ouvida nos próximos dois mêses. Não seria um exagero?
perguntam alguns: Por que se fala tanto em missões, ultimamente? Talvez a
pergunta deveria ser: por que não se falou mais em missões anteriormente?
O espírito missionário precisa caracterizar a Igreja se ela
quiser ser igreja de Cristo. Não se concebe uma igreja viva, dinâmica e crescente,
sem o espírito missionário. Ele faz parte da própria natureza da igreja, como
agente do reino de Deus.
Propagar as boas novas do Evangelho, ser o sal da terra e a luz
do mundo, influenciar a sociedade, tudo isso é tarefa da igreja como corpo
vivo, como agente transformador. A igreja é enviada ao mundo por Cristo assim
como Cristo foi enviado ao mundo pelo Pai.
É
o que se entende por “apostolado da igreja”.
Jesus disse na sua oração sacerdotal: “
João 17:18
– “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os
enviei ao mundo”.
Por
isso, queremos dar algumas respostas à questão em epígrafe: Por que Missões?
1.
Porque é um mandamento de Cristo
Os
mandamentos de Cristo não são sem propósito nem arbitrários. Eles têm uma
razão, uma finalidade. E não nos cabe discutir uma
ordem superior. Se ensinamos aos nossos filhos que não é legítimo
questionar ordens de superiores, sejam
dos próprios pais ou de professores, patrões, governos, etc, porque a
autoridade sobre nós constituída é ministro de Deus.
Rm 13:1,2 - Toda a alma esteja
sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de
Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. 2 Por isso quem resiste à potestade resiste à
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.
Com
que direito podemos questionar um mandamento emanado do próprio Senhor da
igreja?
Aos
apóstolos e discípulos Seus, Jesus disse:
Mt 28:19-20
- Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século.
Os
apóstolos estabeleceram a igreja com oficiais e governo e a implantaram em,
praticamente, todas as regiões do mundo conhecido. Não só nos campos
mencionados em Atos dos Apóstolos e nas epístolas, mas conforme a tradição, em
vários outros lugares como a Índia, a Etiópia, etc, etc.
A
partir dos apóstolos, o trabalho missionário passou a ser função essencial da
igreja, parte da sua própria natureza. É interessante que não encontramos os
apóstolos dando um outro mandamento, semelhante ao de Cristo, em seus escritos.
Encontramos sim, o testemunho de que estavam cumprindo a sua tarefa de “pregar”, porque esse foi o mandamento que
receberam.
Em
Atos 8:4 lemos que, entrementes,
os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.
A
igreja não precisou de outro mandamento. Entendeu que aquele, dado aos
apóstolos, se aplicava a ela também e apenas seguiu o exemplo dos que iniciaram
e estabeleceram esse trabalho. Isto também não quer dizer que os apóstolos não
ensinaram a igreja sobre a sua tarefa de agente do Reino.
Paulo
ordenou a Timóteo que ensinasse a homens fiéis que pudessem, por sua vez,
ensinar a outros:
2Tm 2:2
E o que de minha parte ouviste através de muitas
testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir
a outros.
É
assim que a igreja vem aprendendo e transmitindo o ensinamento de Cristo. Pedro
disse que nossa tarefa, como raça eleita e sacerdócio santo, é proclamar as
virtudes de Deus:
1 Pd 2:9
- Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
A
igreja só pode cumprir sua tarefa de ensinar a outros e proclamar as virtudes daquele
que a redimiu se estiver presente entre os homens, em todos os lugares, e essa presença se faz através da sua expansão. E a sua
expansão foi o motivo da ordem “Ide e fazei
discípulos de todas as nações”.
2.
Porque é um meio de se chegar à fé e de expandir a igreja
A
Bíblia diz que os que invocarem o nome do Senhor serão salvos, mas diz também
que para alguém invocar precisa primeiro crer e que para alguém crer precisa
primeiro ouvir e que para alguém ouvir é preciso haver quem pregue e que para
haver quem pregue é preciso haver quem envie.
Rm 10:13-15
– Porque todo
aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. 14 Como, pois, invocarão aquele em quem não
creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há
quem pregue? 15 E como pregarão,
se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam
o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.
É
a cadeia da evangelização e da obra missionária. Na
base dessa cadeia está o Senhor Deus, que enviou o Senhor Jesus, que enviou a
Sua igreja, que envia os seus pregadores.
Este
é o caminho de Deus para trazer os Seus escolhidos à fé: a pregação. A pregação
pressupõe um pregador e um pregador pressupõe uma igreja que o envie. Só a
igreja do Senhor Jesus pode enviar pregadores. Só ela tem essa legitimidade.
Por isso, missão é tarefa da igreja. Foi assim desde o
princípio. Primeiro a igreja, partindo de Jerusalém, se fez presente em
Samaria, através do evangelista Filipe e dos apóstolos Pedro e João (At
8:5-14), depois em Antioquia, através de Barnabé e Paulo (At 11:22-26) e de
Antioquia ela se espalhou para as outras regiões da Ásia e Europa (At 13:2-4),
já nos dias apostólicos. A igreja, no seu sentido
espiritual, está presente onde quer que se encontre um de seus verdadeiros
membros.
E
ali está também o testemunho e o anúncio da verdade de Cristo, conforme Atos 8:4. Muitas igrejas começam assim, com o
testemunho e trabalho de evangelização de um só crente.
Mas,
para que o trabalho seja estabelecido e confirmado, é preciso que a autoridade
eclesiástica, devidamente reconhecida, se faça presente ali. Foi assim nos
primeiros dias, conforme vimos acima. E tem sido assim, em todos os tempos.
Se hoje temos a igreja estabelecida em
nosso país foi porque ela saiu de suas fronteiras. Primeiro
de Jerusalém, depois da Palestina, depois da Ásia, depois da Europa, e depois
da América do Norte para chegar até aqui. E se hoje cremos, é porque
alguém atravessou fronteiras e cruzou mares para nos trazer o evangelho. Este é
o propósito de missões. Nossas fronteiras não podem ser apenas as dos estados
de nossa federação.
O mandamento inclui “todas as nações”. Nossa visão não pode ser menor do que a dos
apóstolos e discípulos de Cristo. É assim que as pessoas ouvirão e chegarão à
fé, como ouviram em Samaria, em Antioquia, em Salamina, em Pafos, etc., etc..
Este é o caminho que Deus escolheu para trazer os homens à fé.
3.
Porque é um meio de se fortalecer a igreja local
Um
grande engano, provocado por nossa falta de fé, é pensar que se nos dedicarmos
à obra de missões, estaremos enfraquecendo o trabalho local. Estaremos “desviando” verbas que poderiam ser aplicadas em
obras necessárias e até urgentes em nossas próprias igrejas.
A
experiência tem demonstrado exatamente o contrário: que igrejas que se concentram em si próprias e não têm visão da obra
missionária acabam se enfraquecendo.
A razão é que não estamos lidando com números e pessoas, apenas. Estamos
lidando com fatos e questões espirituais.
Uma
igreja que não tem visão missionária não é uma igreja fiel. Não está cumprindo
o seu propósito como igreja. E uma igreja infiel perde as bênçãos que Deus tem
prometido. “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a
medida com que tiverdes medido vos medirão também (Lc 6:38) é o mandamento de Cristo. Se isto é verdade
no nosso trato com os homens, conforme a aplicação de Cristo nesta passagem,
quanto mais com respeito àquilo que fazemos em obediência ao Senhor!
Claro que não estamos dizendo que os recursos que devem ser
destinados aos fins locais, como dízimos e ofertas específicas, devam ser
“desviados”
para a obra geral de missões.
O
que queremos dizer é que não estamos fazendo tudo, quando nossa contribuição e
interesse se concentram apenas na obra local. O que
muitas vezes percebemos é que aqueles que se recusam a ver os privilégios do
envolvimento na obra missionária também não têm em alto conceito a obra local,
nem um grande interesse nela.
Enganam-se
os líderes que pensam que fazer divulgação ou apelo em favor da obra
missionária em suas igrejas, ou pedir que outros façam, vai tirar o interesse e
a visão do trabalho local. As duas coisas geralmente andam juntas. Um crente
interessado em missões e despertado para as suas responsabilidades nesse setor
vai ser um crente operoso e interessado também na obra local.
E,
certamente, vai ser um crente abençoado com recursos materiais para contribuir
para ambas as causas. Todos os recursos vêm do
Senhor e Ele no-los dá, quando nos
dispomos para a obra.
4.
Porque é um meio de se exercer o ministério da misericórdia
Ouvimos
que, em certo lugar, dois irmãos se revezavam na frequência aos cultos
dominicais, um de manhã e o outro à noite, porque eles tinham apenas uma camisa
para ambos. Fatos como esses nos comovem e nos envergonham! A Bíblia diz: compartilhai as necessidades dos santos (Rm 12:13). Mas como vamos
“compartilhar” sem conhecer quais são essas necessidades? E como vamos conhecer
se não estivermos envolvidos?
Quando
Paulo levantou a coleta para os pobres de Jerusalém, contou à igreja
comparativamente rica de Corinto a experiência que tivera com respeito às
igrejas da Macedônia (Filipos, Tessalônica e Beréia). Por serem pobres ele quis
poupar essas igrejas da contribuição. E sabem o que ele diz: Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus
concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita prova de
tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles
superabundou em grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu,
na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários,
pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos
santos. E não somente fizeram como nós
esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós,
pela vontade de Deus (2 Co 8:1).
Este
é um exemplo de voluntariedade e amor aos irmãos. E o segredo desse amor está
na última afirmação de Paulo: E não somente fizeram
como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor,
depois a nós, pela vontade de Deus.
Dar-se
primeiramente ao Senhor é o segredo da voluntariedade e da generosidade. Quando consideramos quanto o Senhor nos tem dado e quando
reconhecemos que tudo o que somos e temos vem dEle, não nos sentimos
constrangidos a compartilhar do que temos com nossos irmãos? Fazendo isto estamos fortalecendo a nós
mesmos, à nossa igreja local e à obra geral da denominação, pois como lemos em Hebreus 6:10, Deus não é
injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para
com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos.
É
interessante notar que, com aquela oferta levantada entre as igrejas fundadas
pela obra missionária, a Igreja de Jerusalém, que era pobre, estava recebendo
dividendos materiais do seu próprio trabalho. Era a igreja local sendo
beneficiada pelo fruto de sua visão missionária. “Dai,
e dar-se-vos-á”.
Conclusão
1. Um mandamento de Cristo
2. Um meio de se chegar à fé e de expandir a igreja
3. Um meio de se fortalecer a igreja local
4. Um meio de se exercer o ministério da
misericórdia
Estes são, dentre outros,
alguns das motivos porque a Igreja precisa envolver-se em missões. Eles fazem parte
de sua própria natureza e são essenciais à sua subsistência, como Igreja de
Cristo.
Cumprem o mandamento do Senhor, trazem os
eleitos à fé, promovem o crescimento da igreja local e nos levam a
simpatizar-nos com os que sofrem, fazendo-nos sentir como membros de uma mesma
família.
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